Às vezes eu me imagino conversando com pessoas que passaram pela minha vida. Na maioria das vezes, eu pareço muito bem, tanto emocionalmente quanto fisicamente. Me vejo falando de mim e dizendo o quanto eu mudei, o quanto me arrependo do passado e como eu queria que tivesse sido diferente.
Gosto de reconhecer os meus erros nessas conversas hipotéticas e ressaltar que eu voltei a ser quem eu era antes, um eu que esse alguém talvez tenha vindo a conhecer, mas que sumiu como um flash de luz, que causa supresa e nos deixa ligeiramente cegos.Muitas vezes sinto vontade de revelar como foi árduo o caminho de volta, talvez seja pretensioso dizer que foi, mas com certeza é. Quando penso nisso, resolvo guardar somente pra mim. Eu não preciso mostrar a ninguém as pedras que recolhi no meu caminho e nem dizer quais eu deixei no mesmo lugar. O fato é que eu não preciso provar nada aos hipotéticos; uma vez aberta a ferida, torna-se inevitável a cicatriz. E a cicatriz é a prova de que nada volta a ser como era antes, apesar da marca indolor. Minhas conversas hipotéticas me mostram imagens irreais, mostram a minha vontade de me eximir da culpa e remover as cicatrizes que eu causei.
Depois de me ter reencontrado, e depois de ter rasgado o véu da ignorância, pude reaver meus sonhos e meus desejos mais ardentes; meu coração impassível voltou a palpitar vez ou outra e o frio na barriga voltou à minha prateleira de sensações. É como se minha alma tivesse vindo à tona, retornado à superfície. Pela primeira vez não tive vergonha de sentir. Na sensibilidade que eu chamava de fraqueza, enxerguei uma pureza que poucos são capazes de entender.
Revivi toda a minha infância e me vi igual, com as mesmas dúvidas acerca do Universo, mas com uma visão tão menos restrita e tão mais capaz de alcançar respostas que se tornaram inacessíveis com o passar dos anos. Quando me encontrei em dor física, lembrei do que minha mãe dizia desde a minha mais tenra infância: seu coração só tem amor e bondade. Confesso que a minha vontade é de desabar em lágrimas e chorar copiosamente. Quando escuto a sua voz em minhas lembranças e vejo seus olhos apreciando a minha inocência, percebo que tantas vezes apunhalei o coração da primeira pessoa que enxergou em mim o bem. E quando retorna em minha lembrança os seus olhares de decepção, me mortifico; eu só queria voltar a ser aquela menina.
Sempre tive facilidade de perdoar as pessoas. Não que eu queira todas bem, apenas não as quero qualquer mal em virtude do que meu causaram, mas a grande pedra em meu caminho e talvez a maior é: como me perdoar? No dia em que eu achar tal resposta, tenho certeza de que poderei seguir em frente. Talvez nunca torne real os meus diálogos hipotéticos e nem assim desejo. Talvez nunca volte a ser aquela menina, mas com certeza serei alguém novo, quem sabe, RENASCIDA.