Olhares vagos dizem mais que qualquer palavra de desprezo

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Euclides já foi jovem

E foi assim que nasceu o primeiro filho de Euclides: sem pai. Sempre foi um garoto irresponsável, libertino e galanteador. Não tinha talento pra coisa alguma, mas sabia fazer muito uso da palavra. Apesar da má fama, era querido, um badboy engraçado. Era estimado pelas crianças, pelos velhos que sempre auxiliava em um serviço aqui ou lá, e até pelos pais das garotas que o queriam longe de suas filhas. Algo realmente sem explicação.
O que não esperava ele, é que a brincadeira de repente tivesse ficado séria demais e agora, Marília estava lá, fitando-o com aquele olhar endagador, cheio de lágrimas, prestes a despencar de seus olhos como a água que despenca de uma cachoeira. Euclides não conseguia pensar em nenhuma solução inteligente para o seu problema. Ele era apenas um garoto e Marília, uma garotinha.
- O que vamos fazer? - Marília perguntou a Euclides, visivelmente desesperada.
Euclides não respondeu e apenas lançou a Marília um olhar que era misto de medo e pavor, se é que seja possível. A primeira coisa que passou em sua mente é que seria obrigado a desposar Marília, mas não era isso que ele desejava para sua vida. Ela era muito bonitinha, muito docinha, muito bobinha. Sem falar que Euclides não conseguiria passar a sua vida inteira na sua pacata cidade natal. Ele era um garoto destinado às grandes cidades, às grandes pessoas, a grandes sucessos. Ao menos, era assim que sentia.
Precisava de alguma forma se livrar de Marília e sua gravidez, mas como? Simplesmente não havia como. Mas havia uma forma de Marília e sua gravidez serem livradas de Euclides. E junto com essa forma, descobriu Euclides que não era um garoto tão sem talento assim.