tag:blogger.com,1999:blog-85996129794360225102024-02-20T00:18:51.419-08:00Reino da ElegiaRodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.comBlogger28125tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-69939051308157425282011-07-12T19:36:00.000-07:002011-07-12T19:36:11.307-07:00Quando a conheciMinha mãe sempre me disse que eu queria ser escritor. Segundo ela, desde a tenra infância. Sempre gostei de criar personagens que divertiam toda a família durante as minhas encenações. Acabei por me acostumar a arrancar sorrisos e risadas, além de pedidos de bis. Sempre acreditei ter mais talento para as comédias espontâneas, para as palavras faladas e não para as escritas, para criar personalidades simples e caricatas que aparecem e vão embora. Até que um acontecimento completamente inesperado, depois de tantos anos pensando que realmente não havia lugar na minha vida para as palavras escritas, me inspirou a utilizá-las.<br />
Já tem alguns meses que venho conhecendo essa mulher. Nunca pensei que pudesse conhecer um personagem de carne e osso. Às vezes me questiono se ela é mesmo real. Quanto mais a conheço, mais me admiro com a sua complexidade e não digo isso no bom sentido.<br />
Nos conhecemos por um acaso na fila de um banco. A conversa começou como todas as outras de filas; sempre algum tipo de reclamação pelo tempo de espera e o nosso diálogo também continuou como todos os outros, achando coisas em comum. No caso em questão, eu carregava nos braços um livro que ela disse gostar muito. Até o presente momento não havia nada de muito relevante neste encontro, mas por algum motivo nos encontramos logo depois no Café. Aí sim posso dizer que foi relevante.<br />
Me abstive de descrevê-la fisicamente porque sei que haverá momento mais oportuno. Eu estava sentado numa mesa ao fundo, como é de minha preferência, lendo e tomando um capuccino, quando ela entrou. Foi direto ao balcão e pediu um chocolate quente. Achei engraçado. Talvez nem devesse, mas estava prestando atenção no que ela fazia, o que me deixou vulnerável. De repente, ela olhou em minha direção e me cravou aqueles olhos enormes e profundos; fez isso por algumas frações de segundos, antes de me sorrir com um certo ar de dúvida. Porém, não pareceu ter dúvida alguma em se encaminhar e sentar na minha mesa. Não perguntou se podia ou se devia, simplesmente sentou. Não demorou muito até que começássemos novamente a conversar. Tive tempo de observar cada pedaço dela com calma. Posso dizer que a sua beleza é incomum, uma beleza difícil de entender, pois foi totalmente construída na imperfeição. Ela tinha um jeito contagiante de falar, de expôr suas ideias. Era muito viva nas suas argumentações e a forma como gesticulava, dava um ar de veracidade à tudo que saía de sua boca. Sempre com as pernas cruzadas e jogando o cabelo ondulado para o lado de forma compulsiva, aos poucos ela foi me penetrando. Mas existia algo sombrio por trás daqueles olhos. Algum mistério facilmente disfarçado pela sua expressividade e conversa envolvente.<br />
Foi um momento daqueles em que as palavras pouco importam, não são mais do que som. Eu estava mais interessado em captar algo menos superficial, a sombra do que a sua expressão não queria mostrar e realmente me distraí.<br />
- Você não está mesmo interessado, não é?<br />
- No quê?<br />
- No que eu estou dizendo.<br />
E me cravou novamente aqueles olhos, só que com um car divertido dessa vez. Depois tirou-os de mim como se estivesse sem graça de estar ali, falando de si mesma para alguém que não parecia não se interessar. Mas eu me interessava sim, só não soube como dizer isso a ela, só dei um sorriso sem graça enquanto ela brincava com o guardanapo.<br />
- Acho que vou indo... Foi um prazer.<br />
E assim ela desapareceu pela porta. Continuei sentado no mesmo lugar, mas ainda pude vê-la acender um cigarro antes de dobrar a esquina.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-37112354076636690352011-04-27T00:38:00.000-07:002011-04-27T00:38:57.445-07:00A segunda carta<div style="text-align: left;">Às vezes eu me imagino conversando com pessoas que passaram pela minha vida. Na maioria das vezes, eu pareço muito bem, tanto emocionalmente quanto fisicamente. Me vejo falando de mim e dizendo o quanto eu mudei, o quanto me arrependo do passado e como eu queria que tivesse sido diferente.</div>Gosto de reconhecer os meus erros nessas conversas hipotéticas e ressaltar que eu voltei a ser quem eu era antes, um eu que esse alguém talvez tenha vindo a conhecer, mas que sumiu como um flash de luz, que causa supresa e nos deixa ligeiramente cegos.<br />
Muitas vezes sinto vontade de revelar como foi árduo o caminho de volta, talvez seja pretensioso dizer que foi, mas com certeza é. Quando penso nisso, resolvo guardar somente pra mim. Eu não preciso mostrar a ninguém as pedras que recolhi no meu caminho e nem dizer quais eu deixei no mesmo lugar. O fato é que eu não preciso provar nada aos hipotéticos; uma vez aberta a ferida, torna-se inevitável a cicatriz. E a cicatriz é a prova de que nada volta a ser como era antes, apesar da marca indolor. Minhas conversas hipotéticas me mostram imagens irreais, mostram a minha vontade de me eximir da culpa e remover as cicatrizes que eu causei.<br />
Depois de me ter reencontrado, e depois de ter rasgado o véu da ignorância, pude reaver meus sonhos e meus desejos mais ardentes; meu coração impassível voltou a palpitar vez ou outra e o frio na barriga voltou à minha prateleira de sensações. É como se minha alma tivesse vindo à tona, retornado à superfície. Pela primeira vez não tive vergonha de sentir. Na sensibilidade que eu chamava de fraqueza, enxerguei uma pureza que poucos são capazes de entender. <br />
Revivi toda a minha infância e me vi igual, com as mesmas dúvidas acerca do Universo, mas com uma visão tão menos restrita e tão mais capaz de alcançar respostas que se tornaram inacessíveis com o passar dos anos. Quando me encontrei em dor física, lembrei do que minha mãe dizia desde a minha mais tenra infância: seu coração só tem amor e bondade. Confesso que a minha vontade é de desabar em lágrimas e chorar copiosamente. Quando escuto a sua voz em minhas lembranças e vejo seus olhos apreciando a minha inocência, percebo que tantas vezes apunhalei o coração da primeira pessoa que enxergou em mim o bem. E quando retorna em minha lembrança os seus olhares de decepção, me mortifico; eu só queria voltar a ser aquela menina.<br />
Sempre tive facilidade de perdoar as pessoas. Não que eu queira todas bem, apenas não as quero qualquer mal em virtude do que meu causaram, mas a grande pedra em meu caminho e talvez a maior é: como me perdoar? No dia em que eu achar tal resposta, tenho certeza de que poderei seguir em frente. Talvez nunca torne real os meus diálogos hipotéticos e nem assim desejo. Talvez nunca volte a ser aquela menina, mas com certeza serei alguém novo, quem sabe, RENASCIDA.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-43421419821512861662011-03-24T19:59:00.001-07:002011-04-02T22:52:20.613-07:00A cartaQuando dizem que o tempo voa, eu imagino de forma completamente distinta. Para mim, o tempo galopa. Passa rápido, é verdade, mas sempre tocando o chão de tempos em tempos, talvez para nos fazer perceber o quão longe já fomos e dessa forma podermos nos orgulhar ou nos arrepender de tempos que já não voltam mais. Eu jamais escrevi uma carta antes, não uma carta real pelo menos, pelo fato de acreditar que palavras escritas podem se tornar eternos compromissos ou até mesmo provas contra si. Para mim, palavras escritas são verdadeiros contratos que não podem ser desditos ou contestados, muito menos apagados. Apesar de ser perigoso, chegou um momento em que eu decido assumir todos os riscos para te dizer algumas palavras incapazes de caber em um diálogo comum, até pelo fato de escondermos sempre o que se passa dentro de nós, talvez por medo de reprovação, orgulho ou vergonha. O tempo galopa tão rápido quanto se voasse, mas o seu tocar o chão é que nos proporciona momentos como esses, onde se põe pra fora o que se tem vontade dizer e que nos lembra de tantas coisas bonitas que poderíamos ter-nos dito, ou um elogio que poderíamos ter-nos feito e que não passaram de meras intenções. Nos lembra também de tantas confissões que necessitamos um dia fazer, ou lágrimas que precisávamos derramar para seguir em frente que não chegaram às nossas bocas ou aos nossos olhos. Resolvi que prefiro pecar pelo excesso e não pela omissão, pois nunca saberemos quantos galopes ainda teremos pela frente, talvez um dia seja tarde demais.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-45350888190217243242011-02-07T21:58:00.000-08:002011-02-07T21:58:05.419-08:00Confissões de Rosemary INão tem coisa mais prazerosa do que despedaçar o coração alheio, ou tornar-se o vício de alguém só para matá-lo pouco a pouco. Não existe melhor sensação do que ser amado mil vezes e nunca amar de volta, do que ver um olhar apaixonado e debochar dele. É incontestavelmente doce ser cruel. Queria que fossem para o inferno todos esses homens que se deixam envolver por mulheres como eu. Que pisam, humilham e destroem o seu orgulho. Homens deveriam ser fortes, ter pulso fime e ser o porto seguro. Não suporto homens fracos, românticos, que entregam a sua dignidade nas mãos de uma mulher. Não gosto de homens que choram, que se declaram, nem de homens que rastejam. Gosto dos homens que me fazem chorar, que me deixam dilacerada por dentro e que ao mesmo tempo fazem com que eu me sinta segura e amada, e mesmo que não seja a única em sua cama, pelo menos seja a única em seu coração.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-49482777470862371042010-11-28T18:17:00.000-08:002010-12-01T19:03:03.434-08:00My wayMinha vida às vezes parece uma cena de filme cuja trilha sonora é uma sonata triste. Sempre sobra a taça, o cigarro e eu mesma na mesa. Atrás da cortina de fumaça que paira no ar, vejo os olhares observadores pousados sobre mim. Me sinto frágil vendo casais felizes e amigos barulhentos com tanto pra compartilhar, enquanto eu estou ali, preenchendo sozinha o meu vazio. Tentei falar com ele, <em>just one million times</em>, somente para ouvir a mesma mensagem: deixe o seu recado. E fui ficando ali, me alimentando de outras alegrias e segurando as lágrimas que teimavam em estragar a minha maquiagem.<br />
Não pensei em pedir socorro, só queria ficar ali, imaginando como seria se ele aparecesse e olhava insistentemente para a entrada do restaurante, como se a qualquer momento pudesse ter uma surpresa. Pedi o jantar sozinha, tomei o espumante sozinha, fumei todos os cigarros sozinha e voltei para casa sozinha novamente. O ritual que fiz horas antes, refiz ao contrário, até me encontrar despida na frente do espelho e lembrar de Teresa.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-52457291388985219052010-11-24T09:30:00.000-08:002010-11-24T09:34:19.537-08:00Euclides volta a abandonarSe é pra ser sincero, assumo que não gosto dessa vida. Talvez eu seja um insatisfeito que se mata na labuta, sonhando com coisas que nunca poderá alcançar. Não invejo aqueles que passeiam em iates e passam férias no Caribe, mas me agradaria muito viver às margens da lei e da ordem, como os hippies que moram na praia e encontram na simplicidade o real significado da felicidade. Por mim, poderíamos simplesmente voltar para o Éden, aquele jardim magnífico onde vivia Adão antes de Deus inventar Eva, que por incrível que pareça, deixou uma marca eterna em todas as mulheres que habitam essa Terra. <br />
Não encarem isso como ofensa, longe de mim, mas não é verdade que a mulher pode ser a fortuna ou a desgraça de um homem? Foi assim mesmo que aconteceu na época da criação. Eva foi a fortuna de Adão. Companheira que findou a solidão daquele homem naquele imenso paraíso, mas também foi a sua desgraça, pois conquistou sua confiança, guiou-o pelos caminhos que o levaram para longe de seu pai e de quebra engravidou dele; duas vezes. Em resumo: Adão foi deserdado, precisou trabalhar o resto da vida e ainda sustentar dois filhos, até que um matou o outro, mas isso já é outra história.<br />
Essa conversa deveria ter significado algo, mas a única coisa que eu fiz mesmo foi demonstrar uma teoria maluca onde Eva é a grande meretriz da História da Humanidade. A verdade é que quando carregamos uma culpa, temos o costume de transferi-la para as costas de um terceiro e no meu caso, a vítima foi Eva.<br />
Ao contrário de mim, Euclides não transferiu a sua culpa, mas assumiu bravamente ela por inteiro. Não sei dizer se foi realmente por coragem ou autopiedade. Balançou a cabeça positivamente para todas as acusações proferidas por Janeth. Talvez eu tenha errado em acreditar que tenha sido coragem ou autopiedade, talvez Euclides tenha aceitado toda a culpa por submissão. Acredito ter sido totalmente mortificante para o seu ego, mas convenhamos que de tão mal alimentado com o passar dos anos, é até difícil acreditar que tenha se manifestado. Apesar de não saber mais detalhes, acredito que foi nesse mesmo dia que ele decidiu fazer o que sempre foi bom em fazer: abandonar. Apesar do ato simples que pode parecer o de assumir uma culpa, á isso não parecerá simples em momento algum na vida de Euclides. Repito: ele sempre foi bom em abandonar. O abandono é o eterno retorno da sua História, é o que traz à tona toda a metralha e tudo o que não pode desaparecer, assim como acontece na ressaca do mar.<br />
Euclides abandonou a sua tirana Janeth acreditando ter-lhe feito um grande favor - não abandonando - casando-se com ela. O abandono trouxe de volta a força do seu ego e junto com ela a euforia da liberdade. Largou tudo o que tinha; o que não era seu e até o que era seu por direito. Deixou para trás também seus filhos, que apesar de serem "seus", eram cópias fiéis de Janeth; pequenos tiranos.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-51180104694384312712010-09-13T19:38:00.000-07:002010-09-13T19:44:14.214-07:00Euclides já foi jovemE foi assim que nasceu o primeiro filho de Euclides: sem pai. Sempre foi um garoto irresponsável, libertino e galanteador. Não tinha talento pra coisa alguma, mas sabia fazer muito uso da palavra. Apesar da má fama, era querido, um badboy engraçado. Era estimado pelas crianças, pelos velhos que sempre auxiliava em um serviço aqui ou lá, e até pelos pais das garotas que o queriam longe de suas filhas. Algo realmente sem explicação.<br />
O que não esperava ele, é que a brincadeira de repente tivesse ficado séria demais e agora, Marília estava lá, fitando-o com aquele olhar endagador, cheio de lágrimas, prestes a despencar de seus olhos como a água que despenca de uma cachoeira. Euclides não conseguia pensar em nenhuma solução inteligente para o seu problema. Ele era apenas um garoto e Marília, uma garotinha.<br />
- O que vamos fazer? - Marília perguntou a Euclides, visivelmente desesperada.<br />
Euclides não respondeu e apenas lançou a Marília um olhar que era misto de medo e pavor, se é que seja possível. A primeira coisa que passou em sua mente é que seria obrigado a desposar Marília, mas não era isso que ele desejava para sua vida. Ela era muito bonitinha, muito docinha, muito bobinha. Sem falar que Euclides não conseguiria passar a sua vida inteira na sua pacata cidade natal. Ele era um garoto destinado às grandes cidades, às grandes pessoas, a grandes sucessos. Ao menos, era assim que sentia.<br />
Precisava de alguma forma se livrar de Marília e sua gravidez, mas como? Simplesmente não havia como. Mas havia uma forma de Marília e sua gravidez serem livradas de Euclides. E junto com essa forma, descobriu Euclides que não era um garoto tão sem talento assim.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-46449850986173553102010-08-08T20:08:00.000-07:002010-09-13T19:39:06.592-07:00O casamento de Euclides IINascia mais um dia de garoa pela janela do quarto de Euclides. Com o travesseiro por cima da cabeça, ele ignorava o toque do despertador. Achava-se impaciente naquela manhã e só de imaginar ter de olhar a cara de Janeth no café-da-manhã, seu estômago embrulhou-se.<br />
Casou-se por interesse e nada mais. Foi a clássica união da fome com a vontade de comer. Janeth já beirava os trinta e ainda estava na prateleira. Euclides não tinha nada além da sua beleza jovial e seu sorriso encantador. Como nem tudo é perfeito, Janeth cansou-se de não ser amada e Euclides cansou-se de nem tentar. Se aturavam dia após dia, conversando apenas o trivial e se vendo quanto menos fosse possível. Dividiam uma casa, uma cama e um filho. Nada mais que isso; todo o resto pertencia a Janeth. Euclides continuou tendo nada além de seu sorriso encantador, pois a beleza jovial já havia expirado o prazo de validade. Não era mais galante, nem cheio de si. Não tinha mais a velha mania de ser o maestro do tempo; na atual conjuntura, acontecia o contrário: o tempo era o maestro de sua vida. E as chuvas se tornaram cada vez mais escassas.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-30630262110090800882010-07-11T15:16:00.000-07:002010-07-11T15:19:28.952-07:00Recordar é viverHá dias na vida em que você precisa parar e olhar ao redor. Sentar no chão e examinar minuciosamente tudo o que acumulou durante o passar dos anos. Papéis, cartas, fotos, boletins da época de colégio, o presente de um ex-namorado, lembranças de uma viagem, enfim, tudo aquilo que ocupa um grande espaço no seu mundo. Não importa quanto tempo vai levar, é uma experiência única. Existem recordações que ficam guardadas durante muito tempo, até você esquecer que elas existem, mas no momento em que você as descobre, causam um turbilhão de emoções, tanto boas quanto ruins, mas que funcionam como uma retrospectiva que te mostra que o tempo realmente corre em mão única, sem dar chance de voltar ou consertar coisa alguma; que o que não tem remédio, remediado está e sofrer não vai fazer diferença, só vai fazer você perder muitas coisas que a vida ainda pode te proporcionar.<br />
<br />
Nem tudo deve ser poupado. Algumas coisas devem ir parar no lixo. Quem precisa de provas velhas? Canetas que não funcionam? Cds arranhados? Uma caixinha de música que já nem tem mais bailarina? Jogar coisas fora é o primeiro passo para dar um novo passo na estrada do tempo. É o sinal de que uma reforma íntima começou. Dar fim ao antigo e buscar o novo. Mas não se livre de tudo. Guarde ao menos uma caixa, bem no fundo do seu armário com tudo o que te faz lembrar de momentos especiais e pessoas especiais. Um dia quando se sentir triste, essas recordações te darão forças pra seguir adiante e viver novos momentos que podem se juntar aos antigos, não só dentro da sua caixa, mas no seu coração.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-90324764117413151452010-07-05T22:31:00.000-07:002010-07-05T22:31:40.005-07:00Papo qualquer coisa<span style="font-family: inherit;">É engraçado como a gente descobre que nunca é maduro o bastante; que nada que você construiu sobreviveu à sua ignorância.Quem morre feliz não foi sábio; pois não soube refletir nem no fim da vida que nunca foi maduro o bastante para ser feliz. É difícil para alguns poder entender a cabeça de alguém, só que mais difícil do que isso, é poder entender e não poder ajudar.Quanto mais a gente vive, mais a gente morre; com a exceção dos pobres de alma.Viva e deixe viver. Talvez descobrir o mistério que envolve a vida só seja bom quando você não puder mais vivê-lo. Será que existem aqueles que enxergam a hipocrisia, a degradação da alma, a devastação dos sentimentos, e acabam entendendo que a vida não é um privilégio? Para certas pessoas, a vida é um castigo.</span>Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-71829016195072569392010-06-16T19:21:00.001-07:002010-06-16T19:31:31.748-07:00Mente sã.O meu passatempo preferido sempre foi pensar. Depois que aprendi a escrever, virou escrever. Mas nunca achei suficiente; queria desenhar, cantar, dançar, enfim, ter um talento especial. Pouco tempo depois, meu passatempo preferido passou a ser observar. Foi daí que percebi que muitas pessoas não pensam e outras até escrevem, mas sem pensar. Agora, toda vez que penso, me sinto especial.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-30637698210669916312010-06-09T13:50:00.000-07:002010-06-14T22:02:54.237-07:00Um casalEla disse não, ele também disse não. <br />
Falaram ao mesmo tempo e sobre a mesma coisa. <br />
Pararam de fumar e voltaram a beber. Viajaram juntos, dormiram juntos e acordaram separados. Dividem o mesmo carro, mas só ele dirige. <br />
Gostam de comer, mas só ela cozinha. Acreditam em Jesus, mas não em Deus. <br />
Não choram vendo filmes e não gostam de ler livros. Ele come o cereal e ela toma o leite. <br />
Ele dá o pão e ela põe o queijo. Ela lava a roupa e ele veste. <br />
Ele dorme fora e ela usa a cama. Não tem filhos ou animal de estimação. <br />
Não estimam um ao outro. Ele volta a fumar e ela não para de beber. <br />
Não têm família. Ele tem amigas, ela tem amantes.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-46307119638207504902010-05-31T16:04:00.000-07:002010-05-31T16:08:16.085-07:00Dar não é fazer amor - parte IDar é dar.<br />
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.<br />
Mas dar é bom pra cacete.<br />
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...<br />
Te chama de nomes que eu não escreveria...<br />
Não te vira com delicadeza...<br />
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.<br />
Melhor do que dar, só dar por dar.<br />
Dar sem querer casar....<br />
Sem querer apresentar pra mãe...<br />
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.<br />
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...<br />
Te amolece o gingado... <br />
Te molha o instinto.<br />
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.<br />
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.<br />
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.<br />
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem <br />
esperar ouvir futuro.<br />
Dar é bom, na hora.<br />
Durante um mês.<br />
Para os mais desavisados, talvez anos.<br />
<br />
<strong>Luís Fernando Veríssimo</strong>Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-12773928348183987292010-05-18T19:38:00.000-07:002010-05-18T19:38:56.394-07:00Quando se perde uma vidaNão esperei que fôssemos chegar àquele ponto. Sempre dizem que as mulheres tem uma sensibilidade apurada, uma espécie de sexto sentido. Mas isso, eu não pude sentir. Não que eu me sinta inútil, mas a gente sempre tem aquela sensação de: "eu poderia ter feito alguma coisa por ele", quando na verdade não poderia. Ninguém poderia.<br />
<br />
<br />
Tentei seguir toda a orientação que me passaram. Distraia-o. Faça-o cair em si. Não faça movimentos bruscos. Ative as boas lembranças em sua memória. Lembre-o das coisas belas da vida. Chore se for necessário. Não precisei usar lágrimas como estratégia, seria inevitável controlá-las.<br />
<br />
Fiz perguntas idiotas, apelei, implorei. Eu me ajoelhei.<br />
<br />
As pessoas dizem que os traumas se curam, que as dores passam e os maus momentos viram só lembranças lá no fundo da memória. Acho que só a experiência pode me dar à certeza de que preciso.<br />
<br />
Aquele foi um dos momentos mais bonitos de minha vida. Não tem nada a ver com aquela ladainha de renovação espiritual, ou acontecimento traumático que te leva até Jesus, foi somente o momento mais sincero que eu já presenciei. Eu pude ver o fundo de sua alma através dos olhos. Eles estavam mais escuros do que de costume, pareciam negros, de tão fundos. Pareciam um poço. Tentei enxergar um resto de vida lá dentro, mas foi inútil. Foi quando desisti. Apenas lhe fiz uma pergunta. A mais idiota de todas as perguntas e que se eu fosse ele, não responderia.<br />
<br />
"Por que estás abrindo mão da vida?" - eu perguntei. E ele me perguntou o que eu achava que era vida.<br />
<br />
Eu respondi, é claro, na luz do desespero, mas pensando melhor, talvez não tivesse precisado. Sua intenção não era realmente saber a minha opinião. Foi uma pergunta que serviu de resposta eficiente. Sempre admirei isso nele.<br />
<br />
"Vida é estar vivo, pra amar, ser feliz etc" - foi o que eu disse. Idiotice, confesso, mas não surgiu nada melhor na hora. Foi aí que eu enxerguei o poço em seus olhos e percebi que para aquela alma não havia mais retorno. Seco. Era assim que ele estava por dentro. Então me calei e deixei-o fazer. Só acho que não deveria ter sido daquele jeito. Ele era tão bonito...Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-71445637828607952172010-05-07T14:23:00.001-07:002010-05-07T14:23:41.191-07:00MonólogoAqui é o reino do fracasso. Fracasso de tudo o que é belo aos olhos e agradável aos ouvidos. A dor aqui é silente, sussurrante no máximo. As flores são brancas e as nuvens, negras. O céu é perto e o mar é longe. Os passos são curtos, temerosos, enquanto o perigo é iminente e mortal; vive à espreita. Não existe afeto ou qualquer forma de carinho; o que se vive aqui é a mais pura das solidões, que por ser completa, embriaga. Embriaga até que mata. Mata vagarosa, de morte morrida sem sentir, sem dor no peito a aflingir. Mata silenciosa, sem grito pra ouvir nem lágrima pra chorar. Não existe sofrimento aqui, no reino do fracasso.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-5566681406066044452010-02-28T08:07:00.000-08:002010-02-28T08:07:16.195-08:00O EXCELENTE ESCRAVO FIELD. Leopoldina, viúva, dona de muitas terras, muitos negros e muitos filhos, ao folhear “A Província de São Paulo”, vê um anúncio muito atraente que tratava da venda de um crioulo novo e cheio de predicados. A preta Chica, já velha, não agüentava mais todo o peso do serviço doméstico.<br />
<br />
<br />
O nome do crioulo novo – adquirido por D. Leopoldina – era José. Em verdade, era mulato; filho de uma negra com um homem branco desconhecido. Parecia muito aceado e tinha boa aparência. Era de poucas palavras e muito respeitador. Obedecia não só as ordens da viúva, mas também de todos os seus filhos; tanto os residentes na casa quanto os que iam de visita. Ao todo eram cinco: Maria da Graça, Maria do Socorro, Joaquim, João Matias e Leopoldo o caçula.<br />
<br />
José trabalhava calado, obedecia calado e ouvia calado. Ouvia muito, pode-se observar. Conversas tolas na maioria do tempo e conversas bem interessantes de tempos em tempos, principalmente as que aconteciam entre João Matias e sua irmã mais velha Maria da Graça, quando esta vinha em visita à casa da mãe em companhia de seus dois pequenos. Conspiravam e planejavam; contra tudo e contra todos, especialmente contra a genitora. Pintavam-na insana e incapaz de administrar seu patrimônio, o que não era verdade, mas muito vantajoso para os dois. Os outros três não ficavam muito atrás, mas não era muito espertos, nem sutis.<br />
<br />
O crioulo temia por D. Leopoldina, tão cercada de abutres. Decidiu usar as palavras que economizava todos os dias para alertá-la, mas seu coração de mãe cegava-a. Terminou em uma casa de saúde, sem nada nas mãos. Não tinha mais terras, não tinha mais negros, não tinha mais filhos, mas tinha José que lhe visitava e oferecia companhia, mesmo com poucas palavras. Era um excelente escravo. Um excelente escravo fiel.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-9853893761061489842010-02-24T11:02:00.000-08:002010-02-24T11:02:58.213-08:00Cidades Secas - Monteiro LobatoChamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.<br />
<br />
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para uma terra melhor.<br />
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o depericimento visível de sua Itaoca.<br />
- Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons - agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando...<br />
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.<br />
É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.<br />
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...<br />
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...<br />
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.<br />
- Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?<br />
- Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.<br />
- Mas, como? Agora que você está delegado?<br />
- Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.<br />
E sumiu.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-49942819561279100472010-02-11T13:03:00.000-08:002010-02-11T13:03:07.609-08:00Lá no bordelLá no bordel onde trabalho, sou a preferida.<br />
Não faço exigências, não cobro carinho, nem tento subir na vida.<br />
Não falo, não beijo, não peço nem um gole,<br />
Só quero um cigarro na despedida.<br />
<br />
Não quero mudar, mas não digo que sou feliz<br />
Já tive sonhos, já fui menina<br />
Virei mulher e agora uso roupas encardidas<br />
Foi como Deus quis, me tornei uma simples meretrizRodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-31380462956570280812010-02-11T12:29:00.001-08:002010-02-11T12:29:12.459-08:00préviaa marcha dos desvairados tomou as ruas<br />
todos enfileirados, como um exército<br />
cheios de tudo que não representa nada<br />
prontos pra apagar a moral<br />
e acender o carnavalRodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-3422296677312567242009-12-07T12:08:00.000-08:002009-12-07T12:08:12.886-08:00desembargador foda- Será que a gente tá no lugar certo?<br />
- Não sei, vou perguntar àquele cara. Vou?<br />
- Vai.<br />
- Ele disse que é aqui mesmo. Acho que ele é desembargador.<br />
- E tu fez "psiu" pro desembargador?<br />
- Fiz. Tô me sentindo o máximo!<br />
- Vem cá... Se são todos desembargadores, quem é que vai sentar naquela cadeira mais alta?<br />
- Sei lá. O desembargador foda.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-34331515130683084282009-11-11T11:35:00.000-08:002009-11-11T11:35:02.811-08:00JoãoMe olho no espelho e me sinto forjado; <br />
Pior: me sinto vendido,<br />
Vendido a baixo preço.<br />
A mediocridade dos passos<br />
Revela a minha fraqueza de alma.<br />
<br />
Molestado.<br />
Molestado pela teimosia de sobreviver<br />
Com o gosto do feijão gelado no paladar,<br />
Engolindo sem sede o café que me amarga,<br />
Matando em brasa o cigarro que me mata por dentro.<br />
<br />
Rumo pra casa;<br />
No mesmo trem lotado de todo dia.<br />
Com as mesmas pessoas de todo dia,<br />
Que me olham como se me conhecessem,<br />
Mas não me cumprimentam porque não me conhecem.<br />
<br />
Desci antes do meu destino.<br />
Eu não queria nada demais, apenas um mergulho no mar<br />
Eu queria a liberdade, mesmo que tardia<br />
Me despi e corri em direção a ele,<br />
Quem dera meu coração tivesse resistido.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-69938948237171447892009-10-26T18:53:00.000-07:002009-10-26T18:53:09.437-07:00Lestat“O vermelho neste copo parecerá mais vermelho, as rosas do papel de parede parecerão incrivelmente delicadas. E será assim que perceberá a lua ou o brilho de uma vela. E com a maior sensibilidade você verá a morte em toda sua beleza, a essência da vida só conhecida no momento da morte. Compreende isto, Louis? Somente você, dentre todas as criaturas, é capaz de ver a morte deste modo impunemente. Você... somente... sob a luz da lua... pode fulminar como a mão de Deus!”<br />
<br />
Vampiro Lestat, descrevendo para Vampiro Louis, os prazeres de matar.<br />
Entrevista com o Vampiro - Anne Rice.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-84976714335293694122009-10-13T16:36:00.000-07:002009-10-13T16:39:47.843-07:00O pio dos pássarosAinda é escuro, mas já cantam os pássaros. Aqueles pios incomodam. Me pergunto se os pássaros não tem mais o que fazer. Evidentemente, o problema é comigo, pois nunca ouvi ninguém reclamar dos pios dos pássaros às 4:30 da manhã.<br />
Senti o cansaço do ócio, por mais que pareça estranho e senti o peso da inutilidade. Lixo, me xinguei.<br />
-<br />
Sempre planejei demais, meticulei demais e me preparei demais pra coisas que nunca vieram a acontecer. Imaginei loucuras, naveguei pelas vontades que foram se acumulando aqui, conformadas com o fato de nunca encontrarem a liberdade. Foram sedimentando, sedimentando, até virarem rocha.<br />
-<br />
Enquanto o dia ia nascendo, eu chorava como um bebê. Derramava lágrimas gratuitamente, à espera de um conforto, à espera daquela voz que afasta o medo e diz que está tudo bem. Tudo o que pude ouvir foram os meus soluços e o pio dos pássaros às 5:00 da manhã.<br />
-<br />
A rocha não era tão rocha assim. Pude senti-la se fragmentando rapidamente e me devolvendo o vazio habitual. Nesse momento, eu senti que tinha voltado de longas férias e que estava no comando novamente. Imaginei se isso não seria perceptível ao mundo ao meu redor.<br />
-<br />
Enquanto me afogava nas lágrimas, eu bocejei. Sinal de que a qualquer momento, sem que eu percebesse, aquele choro ia dar lugar a um sono que me traria algumas horas de anestesia, até retornar ao mundo real. E depois?<br />
-<br />
Acordei ao meio dia. Atendi o telefone. Ninguém percebeu.<br />
-<br />
Acordei ao meio dia. Atendi o telefone. Caiu a ficha; eu estava de volta. Mas nada estava diferente de quando eu fechei os olhos. Salvo a única: não havia o pio dos pássaros.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-80645364797599357242009-10-02T16:19:00.000-07:002009-10-02T16:22:34.827-07:00Se eu pudesse ser alguém além de mim e Jim Morrison, seria Fernando Pessoa. Por isso, eu resolvi tentar fazer uma releitura do I poema do livro de Alberto Caeiro: O Guardador de Rebanhos.<br />
<br />
<br />
Eu nunca guardei rebanhos<br />
Mas é como se os guardasse.<br />
Minha alma não é como um pastor,<br />
Mas como um cajado, que sente o chão<br />
E segura o fraco corpo quando preciso.<br />
Toda a paz da Natureza sem gente<br />
Sussurra palavras incompreensíveis aos meus ouvidos<br />
O meu corpo não é como um cajado,<br />
Mas como um pastor que o rebanho assiste,<br />
Sem alterar uma batida do coração.<br />
<br />
Mas a minha tristeza é sossego,<br />
Pois estou em minha inteira consciência.<br />
Pobres daqueles que se deixam cegar<br />
Pela inebriante luz do amor.<br />
<br />
Para cada pingo de chuva que chora o céu,<br />
Existem dez lágrimas presas de solidão.<br />
Invade o meu ser um frenesi, e então,<br />
Os meus pensamentos são contentes.<br />
Só tenho pena de saber que eles são contentes,<br />
Porque, se o não soubesse,<br />
Em vez de serem contentes e tristes,<br />
Seriam alegres e contentes.<br />
<br />
Pensar incomoda como andar à chuva;<br />
O corpo estremece ao frio<br />
E a alma à culpa.<br />
<br />
Não tenho ambições nem desejos<br />
Ser poeta não é uma ambição minha<br />
É a minha maneira de estar sozinho<br />
E mais próximo de mim.<br />
É na poesia que tudo finda<br />
E onde quero me findar<br />
É na realidade colorida dos versos onde quero descansar os olhos.<br />
É no verdadeiro entendimento sublime das palavras<br />
Que estou disposto a me afogar.<br />
<br />
Quando me sento a escrever versos<br />
Não imagino o que escapará ao meu silêncio.<br />
Escrevo meus versos num papel que está no meu pensamento,<br />
Entôo cantilenas surdas em meu sorriso<br />
E logo mais esqueço, me apago.<br />
Me sinto um cajado em minhas próprias mãos<br />
Quando minh'alma sucumbe à generosidade<br />
Tão condenada por mim.<br />
Não vejo nada além da linha do horizonte<br />
E não escuto mais do que pensamentos altos e conversas banais.<br />
Me permito sorrir vagamente como quem não compreende o que se diz<br />
E quer fingir que compreende.<br />
<br />
Saúdo todos os que compartilham da minha loucura<br />
E não enlouqueceram por fim.<br />
Saúdo também os que não me compreendem e secretamente espero,<br />
Que nunca venham a me compreender.<br />
<br />
Saúdo-os e desejo-lhes sol<br />
E chuva, quando a chuva é precisa<br />
E desejo-lhes algo melhor do que ler os versos de um poeta sem lei<br />
Mas se assim não quiserem,<br />
Desejo apenas que ao lerem meus versos, pensem<br />
Que eu sou qualquer coisa natural -<br />
Por exemplo, a árvore antiga<br />
Que abrigou diversas gerações<br />
E mesmo assim, não tem nada pra contar.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8599612979436022510.post-26353947576708052812009-09-15T17:07:00.003-07:002009-09-15T17:08:07.151-07:00misturando molhos e sensações,<br />
<br />
não sabia no que ia dar<br />
<br />
a minha macarronada de emoções.Rodrigueshttp://www.blogger.com/profile/11334358620636041170noreply@blogger.com2