D. Leopoldina, viúva, dona de muitas terras, muitos negros e muitos filhos, ao folhear “A Província de São Paulo”, vê um anúncio muito atraente que tratava da venda de um crioulo novo e cheio de predicados. A preta Chica, já velha, não agüentava mais todo o peso do serviço doméstico.
O nome do crioulo novo – adquirido por D. Leopoldina – era José. Em verdade, era mulato; filho de uma negra com um homem branco desconhecido. Parecia muito aceado e tinha boa aparência. Era de poucas palavras e muito respeitador. Obedecia não só as ordens da viúva, mas também de todos os seus filhos; tanto os residentes na casa quanto os que iam de visita. Ao todo eram cinco: Maria da Graça, Maria do Socorro, Joaquim, João Matias e Leopoldo o caçula.
José trabalhava calado, obedecia calado e ouvia calado. Ouvia muito, pode-se observar. Conversas tolas na maioria do tempo e conversas bem interessantes de tempos em tempos, principalmente as que aconteciam entre João Matias e sua irmã mais velha Maria da Graça, quando esta vinha em visita à casa da mãe em companhia de seus dois pequenos. Conspiravam e planejavam; contra tudo e contra todos, especialmente contra a genitora. Pintavam-na insana e incapaz de administrar seu patrimônio, o que não era verdade, mas muito vantajoso para os dois. Os outros três não ficavam muito atrás, mas não era muito espertos, nem sutis.
O crioulo temia por D. Leopoldina, tão cercada de abutres. Decidiu usar as palavras que economizava todos os dias para alertá-la, mas seu coração de mãe cegava-a. Terminou em uma casa de saúde, sem nada nas mãos. Não tinha mais terras, não tinha mais negros, não tinha mais filhos, mas tinha José que lhe visitava e oferecia companhia, mesmo com poucas palavras. Era um excelente escravo. Um excelente escravo fiel.
Em poucas palavras, assim como José: FODA!
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